30/10/2012
Fausto no Coliseu dos Recreios
17/10/2012
Fausto nos Coliseus
Fausto Bordalo Dias canta nos coliseus o
fim de uma trilogia de viagens.
A longa viagem de Fausto Bordalo Dias
pelas crónicas e relatos da diáspora e dos Descobrimentos, que lhe tomou trinta
anos na composição de uma trilogia, culminará com concertos este mês, nos
coliseus de Lisboa e do Porto.
No sábado, 20 de Outubro de 2012, Fausto estará no Coliseu de Lisboa e, no dia
25, no Coliseu do Porto com a transposição para palco de praticamente todo o
disco "Em busca das montanhas azuis", editado no ano passado, o tal
duplo álbum que faz parte da trilogia de uma vida, juntamente com "Por
este rio acima" (1982) e "Crónicas da terra ardente" (1994).
Fausto Bordalo Dias, 63 anos, tem um longo percurso renovador na música popular
portuguesa, e esta trilogia é apenas uma parte desse trabalho.
Em entrevista à agência Lusa, Fausto admitiu que não morre de amores pelo
palco, por um traço particular de caráter, a timidez: "Quando entro em
palco cria-se uma tensão fortíssima. Mas depois de lá estar e começar a tocar,
tenho um enorme prazer".
Pelo prazer de partilha das canções com o público, Fausto irá interpretar um
tema escolhido pelos espetadores e o mais certo é que seja "Lembra-me um
sonho lindo", de "Por este rio acima", a fechar os concertos nos
coliseus.
A trilogia foi editada com intervalos de dez anos e engloba histórias sobre o mar,
sobre naufrágios e a aproximação dos portugueses à costa africana e, por fim,
sobre "a entrada pela terra dentro", naquele continente.
Quem não leu, por exemplo, "Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto, ou
as crónicas de "História Trágico-marítima", reunidas por Bernardo
Gomes de Brito, ambas sobre os Descobrimentos, certamente fará outras
interpretações das canções de Fausto, mais próximas da atualidade.
"Para mim [a trilogia] foi qualquer coisa de emotivo", recorda
Fausto, por causa dos tempos em que viveu em Angola, de onde recorda "as
paisagens e os céus", mas admitiu que gosta que as outras pessoas
interpretem as canções à maneira delas, até porque há outras diásporas, medos e
naufrágios a acontecer.
Fausto considera-se "muito céptico em relação à atualidade", por isso
não quer "desanimar as pessoas": "Infelizmente, este tipo de
crise e de sistema em que o mundo está mergulhado, o neoliberalismo extremista
e radical, vai perdurar alguns anos".
E "Em busca das montanhas azuis" é mesmo o final de um tempo?
"Eu ponho eventualmente - sublinho o eventualmente - a hipótese de fazer
uma adenda, um 'post scriptum', porque muitas coisas ficaram por cantar.
Ficaram coisas na gaveta não feitas, mas por compor. Já me surgiu essa ideia,
não sei se a vou fazer, mas é uma hipótese, ficaria uma tetralogia",
admitiu.
Apesar de se considerar disciplinado para compor - "tenho horas certas
para escrever. Já compus durante a noite muitas vezes, agora sou mais amigo da
luz, preciso da luz e do dia para compor" - Fausto diz estar numa fase de
"pousio".
"Neste momento não penso em compor. Vou tendo ideias, tiro apontamentos,
mas acho que é preciso afastar-me. Se compomos sistematicamente tendemos a uma
repetição, tendemos a fazer o autoplágio", disse.
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico aplicado pela
agência Lusa*
Fonte - Jornal Ionline